domingo, 3 de junho de 2012

Resenha: Hotel Ruanda

Filme: Hotel Ruanda
Direção: Terry George
Produção: 2004
Gênero: Drama




Sentimento Humanitário?


    Grande conflito na África? Um milhão de mortos e um e meio de refugiados? E a intervenção da ONU? Cadê a Ajuda Humanitária? O que estamos fazendo em relação a isso? Bom para respondermos é só recorrermos a uma das falas de um jornalista de imprensa mundial no Filme Hotel Ruanda: "As notícias desses massacres na TV aterrorizam a todos que os assitem. Mas, logo em seguida, todos jantam[os] tranquilamente."
    Esse filme se passa em Kigali, em 1994, e o protagonista é Paul Rusesabagina, gerente de um luxuoso hotel chamado Milles Collines, responsável por hospedar importantes personalidades oriundas de todo o mundo, das quais, muitas vezes decidem o rumo da Ruanda. É interessante frisar que, sendo baseado em fatos verídicos, o verdadeiro Paul participou das gravações possibilitando maior fidelidade aos fatos.
    É neste cenário que se desenrolará os acontecimentos. Sendo assim, periodicamente Paul ia ao fornecer de alimentos do hotel para abastecer o estoque, e num desses dias viu que no galpão havia milhares de facões vindos da China, que posteriormente seria um dos armamentos utilizados no conflito. Então, percebeu que a etnia hutu, na qual ele pertencia, estava se movimentando para um conflito contra os tutsis. A partir daí, acontece um falso acordo de paz, o presidente tutsi foi morto e iminentemente, o motim começou durante cerca de 4 meses.
    Percebendo o perigo que o rodeava, Paul tentou contatar aqueles homens influentes que vinham ao hotel e eram muito bem recebidos, mas para sua surpresa, percebeu que a situação daquele povo não importava para eles. Aliás, o exército hutu era mantido pela França.
    Com o agravamento da situação, o hotel virou um local para todos os refugiados, entre eles seus vizinhos, filhos e esposa, ressaltando ser esta da etnia tutsi. Ao final do conflito, esta decisão tomada pelo gerente, implicou no salvamento de aproximadamente 1.200 pessoas. 
    Para entendermos melhor essa situação é necessário recorrer a sua gênese na História. A África, assim como a América, despertou interesse nas potências, seja como mão de obra no caso daquela, ou como grande estoque de matérias prima. 
    Nos primórdios, os africanos se organizavam em clãs, ligados por laços linguísticos, culturais, mas sem fronteiras delimitadas. A partir do momento que ocorre a intervenção europeia de fato, no século XIX e XX, e a partilha desse continente, após a Conferência de Berlim (1884), acabou-se juntando num mesmo país etnias antagônicas e separando aquelas que se harmonizavam que, muitas vezes, não podiam se encontrar mais. Essas fronteiras artificiais não respeitaram as particularidades de cada etnia, justificando os constantes massacres. Depois da II Guerra Mundial, as potências perceberam que não poderiam arcar com a administração de outro território além do seu, mas  que poderia ter uma forma mais rentável, matendo influências (política, econômica, cultural etc.) sobre o local, no entanto, vai ocorrer a independência desses países.
   Assim também aconteceu com a Ruanda, sendo formada por duas etnias, a hutu (maioria: 85%) e a tutsi (minoria: 15%). Ficou independente em 1962, da Bélgica, e por consentimento desta uma elite tutsi mantinha o poder. Isso explicou o ódio dos hutus, ao qual por longos, estiveram marginalizados dos benefícios que aquela gozava. 
    Pode-se dizer que o diretor, Terry George, sucintamente, quis mostrar o que acontece em meio a esses conflitos, onde os povos de um mesmo país e de digladiam, mas a preocupação é sempre em salvar os brancos, a questão da corrupção, onde o exército não protegia a população dos rebeldes sem subornos e, ainda mais, por que tinha o envolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), criada após a Segunda Guerra Mundial como o objetivo de manter a paz, mas que infimamente conseguiu intervir na situação, já que Ruanda não era nada, politicamente falando.
   O filme mostrou apenas um dos conflitos em que o povo africano convive diariamente, aos quais muitas vezes nem ficamos sabendo, e quando ficamos pouco se fala/faz a respeito. Fala-se muito em sentimento humanitário, criam-se instituições de ajuda ao povo africano, mas até aonde se estende essa ajuda? É benéfica? Ou agrava a situação?  Nos momentos de grande caos vemos essa ajuda ficar comprometida, pois o olhar das potências, ou melhor, de grande parte do mundo para a África é como algo exótico, inferior, subdesenvolvido e primitivo, que serve apenas como um estoque de matéria-prima. O mundo se esquece de suas raízes!  

Escrito por: Priscilla Alves Barreto - Licenciada em História e Geografia, 2012.

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