domingo, 3 de junho de 2012

Resenha: O Último Rei da Escócia

Filme: O Último Rei da Escócia
Direção: Kevin McDonald
Produção: Inglaterra, 2006
Gênero: Drama


Ciclo Vicioso & Persuasão


     Sabe aquele discurso que te envolve e fala tudo aquilo que precisamos? Acaba reacendendo as esperanças? E aí começa a ver uma luz no final do túnel? Assim é como subiram ao poder vários ditadores na história da Humanidade, ao qual por meio de um discurso extremamente persuasivo conseguiram o apoio popular e, com isso, conquistaram o poder. É nesse cenário que o filme "O Último Rei da Escócia" vai mostrar ao seu expectador. 
   Para contar toda a história desse ditador africano chamado Idi Amin, que ficou no poder durante 8 anos na Uganda. O diretor do filme colocou um personagem fictício, mostrando o olhar branco para o continente/povo africano: de desconhecimento. Este é um médico que atende pelo nome de Nicholas Garrigan, interessado em se aventurar em um lugar diferente. E girando um globo terrestre dentro de seu quarto, resolve ir à Africa, mais especificamente um vilarejo da Uganda, em busca de aventura e de trabalho junto de um casal de médicos naquele lugar. 
    Inesperadamente, o recente presidente foi discursar nesse clã, sendo aplaudido por todos. No retorno, o presidente sofre um ferimento e Garrigan foi levado pelo exército nacional para tratar desse ferimento. E o médico sacrifica um animal com a arma do presidente, que simpatizou com Garrigan pelo seu ato de coragem e sua nacionalidade escocesa. 
    Sendo assim, Idi faz uma grande proposta para esse jovem recém-chegado, tornando-o seu médico pessoal e também, com o tempo, seu confidente. A cada dia, Garrigan fica mais envolvido na situação política ugandense. Quando realmente viu no que estava metido, precisou de muita luta para conseguir voltar à sua terra natal, podendo assim, acompanhar a deposição do ditador Idi. 
    Na História constatamos muitos casos semelhantes à esse, a que ditadores sobem ao poder com o discurso de luta, de melhoria da situação, mas depois assumem posturas rígidas e autoritárias. No caso do filme, são mostrados vários momentos a intolerância com aqueles que se opunham ao poder ou em relação aos estrangeiros, ficando explícito, quando em um de seus diálogos, Amin diz ter expulsado os empresários asiáticos, isto é, indianos de seu território. Aliás, durante todo o seu governo, foram sacrificadas mais de 300 mil vidas. E o crucial, é que no final pôde-se ver o mesmo quadro do início, onde a mesma população que o tinha colocado no poder, festejou sua decadência, mas não viria a se encerrar o ciclo vicioso, de governos ditatoriais e corruptos, enquanto a população vive em condições paupérrimas se utilizam de dinheiro para gastos pessoais, através de desvios. 
     O filme fez outras referências que devem ser levadas em consideração nesta resenha. Uma delas é a grande interferência inglesa no apoio ou não da autoridade de Uganda, pois a todo o momento havia representantes acompanhando a situação do país. Isso pode ser entendido pelo motivo desse país estar no território do domínio britânico, denominado como África oriental britânica. 
    A outra referência observada foi as imagens do filme, nas estradas percorridas, há a presença da monocultura comercial, ou melhor, as plantations de cana de açúcar, modelo  de plantação introduzido pelo colonizador destinada à exportação, para a Europa principalmente. Elas ocupam áreas de colonização, com solos férteis, enquanto que a maioria da população foi sendo empurrada para terras menos férteis, o que agrava o problema, quando se leva em consideração ainda as técnicas e instrumentos rudimentares que são utilizados nessa cultura de subsistência, agravando a situação de pobreza e fome da população. Isso pode ser colocado como herança do colonialismo e da divisão da produção imposta por ele. 
    E, por último, chama a atenção a referência islâmica feita quando se observa a trigamia do presidente ugandense. Recorrendo mais uma vez aos fatos históricos, é possível averiguar que os árabes já dominavam o norte africano nos séculos VII e VIII e, a partir disso, para praticar o comércio, existiam caravanas que iam para outros lugares além deserto, difundindo a religião e a língua. Para termos como exemplo, a área do deserto do Saara, tem um nome de origem árabe "Sahel" que significa borda, e nessa área existem países como Senegal e Mauritânia em que a população islâmica chega a quase 80%, mostrando a forte presença dessa religião na África. No entanto, em muitas localidades essa religião foi adaptada, ou seja, em partes da África do Oriente, incorporou-se a dança e  tambor nos eventos religiosos. 
    O filme também mostra a questão da Aids, detectada em 1981, causando uma epidemia que até hoje continua se alastrando não só no continente africano, mas ali em maior intensidade, trazendo grandes consequencias como aumento de crianças órfãs e a eliminação de importante parcela da força de trabalho, além de absurdos gastos na área da saúde. Para se ter uma ideia, a Uganda atualmente fez pesadas campanhas de informações e conseguiu ampliar o uso de preservativos e fazer a substituição do aleitamento materno, resultando na redução na transmissão do vírus, caindo de 15% para 5%.
    Enfim, foi um filme produzido pelo departamento da Fox que trabalha com filme de menor interesse comercial, mas há esse interesse, pois é difícil, dentro desse mercado competitivo como o do cinema, aqueles que querem simplesmente fazer um filme pelo seu conteúdo, sem fins lucrativos. Mesmo assim, foi possível fazer boas referências de questões históricas e ver seu desencadeamento no decorrer do filme, mesmo com uma pitada de ficção (tendo como base o livro homônimo de Gils Foden). Assim, acredito ser um filme que aborda, dentro das suas limitações, um bom assunto e conteúdo. 

Elaborado por: Priscilla Alves Barreto - Licenciada em História e Geografia 
   


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